O Evangelho de Mc 6, 30-34,
proclamado neste último domingo, apresenta-nos Jesus, que após ter recebido os
apóstolos provindos da missão, convida-os a descansar. Esse chamado do Senhor
revela-nos a sua profunda sensibilidade para com a pessoa humana. Ele, antes de
buscar resultados ou preocupar-se com os feitos realizados, olha o outro na
condição em que se encontra. Prima, por conseguinte, pelo ser e não pelo fazer.
O convite do nosso amado Mestre e
Senhor deve levar-nos à reflexão da importância do descanso em nossas vidas. O
mundo moderno oferece muitas possibilidades, que são até facilitadoras das
atividades que temos que cumprir, mas é marcado fortemente por uma situação de
estresse contínuo que faz adoecer as pessoas.
Ultimamente se fala da assim
chamada síndrome de burnout. A expressão
surgiu entre os atletas anglo-saxões que utilizavam o termo para significar o
fato de “estar queimado”. Na literatura científica de cunho psicológico, o
termo foi usado para referir-se à situação que experimentam aqueles
profissionais que trabalham em algum tipo de instituição ou atividade
particular cujo objetivo é servir as pessoas. Observou-se que esses
profissionais se exauriam, desgastando-se emocionalmente, chegando a ser
ineficazes em suas atividades.
O hino da oração de Vésperas
assim reza: “Terminando tão grande trabalho, decidistes entrar no repouso,
ensinando aos que cansam na luta, que o descanso é também dom precioso”. É
preciso cuidar da saúde física e mental, encontrar tempo para refazer as forças
e viver com intensidade, do contrário seremos tragados pelo afã do muito
fazer e a vida passará e nem nos daremos conta dela. É preciso descansar para
ver melhor, ouvir com atenção, estar todo diante das pessoas. A questão, como
diz Cora Coralina, não é se a vida é breve ou longa, mas se a vivemos
intensamente. A isto o Senhor nos convida. Ouçamos a sua voz: “Vinde sozinhos
para um lugar deserto, e descansai um pouco”.
Esse convite de Jesus não diz
apenas respeito ao repouso físico, mas também ao espiritual. Trata-se de um
convite a estar com Ele. Na verdade, foi a isso primeiro que nos chamou, quando
nos disse: “Vem e segue-me”. Ele quer
dar também descanso para nossa alma, por vezes, aflita e angustiada: “Vinde a
mim todos o que estais cansados sob o peso do vosso fardo e eu vos darei
descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim que sou manso e humilde
de coração, e encontrareis descanso para vossas almas, pois o meu jugo é suave
e o meu fardo é leve”.
O Papa Francisco falando à Cúria
Romana chamou atenção do que ele nominava de doença do “martarismo”, ou seja, a
doença do ativismo onde se vive numa atividade frenética. É preciso estar, como
Maria aos pés de Jesus para ouvi-Lo e refazer as energias. O nosso agir precisa
ser “mistificado”, necessita ser perpassado pelo modo de ser de Jesus que só
será o nosso modo na medida que estivermos com Ele. Dessa forma, antes de saber
agir ou fazer, saberemos, como Jesus, olhar com ternura e compaixão as pessoas
que estão ao nosso redor.
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