terça-feira, 21 de julho de 2015

Um Deus que nos convida ao repouso


O Evangelho de Mc 6, 30-34, proclamado neste último domingo, apresenta-nos Jesus, que após ter recebido os apóstolos provindos da missão, convida-os a descansar. Esse chamado do Senhor revela-nos a sua profunda sensibilidade para com a pessoa humana. Ele, antes de buscar resultados ou preocupar-se com os feitos realizados, olha o outro na condição em que se encontra. Prima, por conseguinte, pelo ser e não pelo fazer.

O convite do nosso amado Mestre e Senhor deve levar-nos à reflexão da importância do descanso em nossas vidas. O mundo moderno oferece muitas possibilidades, que são até facilitadoras das atividades que temos que cumprir, mas é marcado fortemente por uma situação de estresse contínuo que faz adoecer as pessoas.

Ultimamente se fala da assim chamada síndrome de burnout. A expressão surgiu entre os atletas anglo-saxões que utilizavam o termo para significar o fato de “estar queimado”. Na literatura científica de cunho psicológico, o termo foi usado para referir-se à situação que experimentam aqueles profissionais que trabalham em algum tipo de instituição ou atividade particular cujo objetivo é servir as pessoas. Observou-se que esses profissionais se exauriam, desgastando-se emocionalmente, chegando a ser ineficazes em suas atividades.

O hino da oração de Vésperas assim reza: “Terminando tão grande trabalho, decidistes entrar no repouso, ensinando aos que cansam na luta, que o descanso é também dom precioso”. É preciso cuidar da saúde física e mental, encontrar tempo para refazer as forças e viver com intensidade, do contrário seremos tragados pelo afã do muito fazer e a vida passará e nem nos daremos conta dela. É preciso descansar para ver melhor, ouvir com atenção, estar todo diante das pessoas. A questão, como diz Cora Coralina, não é se a vida é breve ou longa, mas se a vivemos intensamente. A isto o Senhor nos convida. Ouçamos a sua voz: “Vinde sozinhos para um lugar deserto, e descansai um pouco”.

Esse convite de Jesus não diz apenas respeito ao repouso físico, mas também ao espiritual. Trata-se de um convite a estar com Ele. Na verdade, foi a isso primeiro que nos chamou, quando nos disse: “Vem e segue-me”.  Ele quer dar também descanso para nossa alma, por vezes, aflita e angustiada: “Vinde a mim todos o que estais cansados sob o peso do vosso fardo e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas, pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.

O Papa Francisco falando à Cúria Romana chamou atenção do que ele nominava de doença do “martarismo”, ou seja, a doença do ativismo onde se vive numa atividade frenética. É preciso estar, como Maria aos pés de Jesus para ouvi-Lo e refazer as energias. O nosso agir precisa ser “mistificado”, necessita ser perpassado pelo modo de ser de Jesus que só será o nosso modo na medida que estivermos com Ele. Dessa forma, antes de saber agir ou fazer, saberemos, como Jesus, olhar com ternura e compaixão as pessoas que estão ao nosso redor.



Pe. Pedro Moraes Brito Júnior

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