quinta-feira, 20 de março de 2014

Transfigurados pela ascese


O evangelho do segundo domingo da quaresma, tempo no qual somos convidados a renovar o nosso batismo, ajuda-nos a entender esse sacramento que abre as portas da vida cristã. O batizado é alguém que foi iluminado por Cristo e por Ele transfigurado, uma vez que participa de sua morte e ressurreição. Torna-se uma nova criatura, chamada a produzir frutos no Espírito.

Tal condição de nova criatura em Cristo da pessoa batizada é uma realidade que a mesma deve atuar no seu dia a dia através do seu modo de proceder. São Paulo, na Carta aos Gálatas, fala-nos que uma vez libertados por Cristo, somos chamados a orientar a nossa liberdade para o bem: “Vós fostes chamados à liberdade, irmãos. Entretanto, que a liberdade não sirva de pretexto para a carne, mas, pele caridade, coloca-vos a serviço uns dos outros” (Gl 5,13).

Para orientar a nossa liberdade para o bem, torna-se mister a prática de algo que considero de extrema necessidade nos dias atuais: a prática da ascese. É uma realidade que faz parte da espiritualidade cristã, mas que originariamente provém do mundo do esporte. A palavra em si mesma significa exercício e dizia respeito aos treinos que o atleta na Grécia antiga submetia-se para progredir e alcançar a vitória nas competições esportivas.

A ascese cristã refere-se ao esforço, ao empenho praticado para manter-se firme no caminho do bem e progredir espiritualmente. Uma expressão privilegiada da ascese cristã são as virtudes, as quais são designadas como hábitos bons continuados. A pessoa virtuosa é aquela que se empenha cotidianamente em perseverar nos valores que considera fundamentais para orientar o seu viver.

Isso exige determinação, disciplina e, por vezes, até o sacrifício. Nossa geração atual é avessa a tais palavras, pois o modo light de viver direciona as pessoas para escolher somente o que é prazeroso e fácil.
A ascese é importante para realizarmos os nossos ideais. Somente as pessoas determinadas e esforçadas vencem e conquistam os seus sonhos.

Muitas das situações que vivemos resultam como falta de ascese em nosso viver. A modo de exemplo, cito duas entre tantas outras. Cito-as pelas grandes dimensões que elas têm em nosso viver: a questão ecológica e a do trânsito. A solução da primeira é complexa, mas uma das coisas importantes é o aperfeiçoamento de hábitos ecologicamente corretos. É mais fácil jogar algo no chão, deixar a torneira aberta, o lixo espalhado do que empenhar-se em ter bons comportamentos, vivendo a assim chamada “ética do cuidado”.

A indisciplina no trânsito, com os consequentes elevados números de acidentes e mortes, faz-nos perceber a má educação do motorista brasileiro que opta, no seu “jeitinho”, por soluções frequentemente desastrosas. É preciso ter firmeza de caráter, ou seja, consciência bem formada, bem como firmeza prática para obedecer as leis e evitar danos a si mesmo e a outros.

É necessário ser asceta para ser um bom cidadão, bem como para ser um bom cristão. Queremos transfigurar nós mesmos e o mundo, buscando, da nossa parte, empenhar-nos em realizar cotidianamente, o que consideramos significativo, bom, humano. Essa é uma forma de dizer concretamente o que queremos ser e contribuir para a construção de uma sociedade verdadeiramente civilizada, humana e cristã.


Pe. Pedro Moraes Brito Júnior

1 comentários :

Grande verdade em sua reflexão Pe. Pedro!!! A nossa indisciplina no exercício dessa ascese nos faz buscar o que custa menos, o que é mais fácil. E é esse jeito morno de sermos cristãos que vai nos afastando da perfeição e nos tornando prisioneiros dos nossos pequenos ou grandes vícios...Obrigada por despertar em nós a vontade de buscar a verdadeira ASCESE. Abraços!

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