O evangelho do segundo domingo da
quaresma, tempo no qual somos convidados a renovar o nosso batismo, ajuda-nos a
entender esse sacramento que abre as portas da vida cristã. O batizado é alguém
que foi iluminado por Cristo e por Ele transfigurado, uma vez que participa de
sua morte e ressurreição. Torna-se uma nova criatura, chamada a produzir frutos
no Espírito.
Tal condição de nova criatura em
Cristo da pessoa batizada é uma realidade que a mesma deve atuar no seu dia a
dia através do seu modo de proceder. São Paulo, na Carta aos Gálatas, fala-nos
que uma vez libertados por Cristo, somos chamados a orientar a nossa liberdade
para o bem: “Vós fostes chamados à liberdade, irmãos. Entretanto, que a
liberdade não sirva de pretexto para a carne, mas, pele caridade, coloca-vos a
serviço uns dos outros” (Gl 5,13).
Para orientar a nossa liberdade
para o bem, torna-se mister a prática de algo que considero de extrema
necessidade nos dias atuais: a prática da ascese. É uma realidade que faz parte
da espiritualidade cristã, mas que originariamente provém do mundo do esporte.
A palavra em si mesma significa exercício e dizia respeito aos treinos que o
atleta na Grécia antiga submetia-se para progredir e alcançar a vitória nas
competições esportivas.
A ascese cristã refere-se ao
esforço, ao empenho praticado para manter-se firme no caminho do bem e
progredir espiritualmente. Uma expressão privilegiada da ascese cristã são as
virtudes, as quais são designadas como hábitos bons continuados. A pessoa
virtuosa é aquela que se empenha cotidianamente em perseverar nos valores que
considera fundamentais para orientar o seu viver.
Isso exige determinação,
disciplina e, por vezes, até o sacrifício. Nossa geração atual é avessa a tais
palavras, pois o modo light de viver direciona as pessoas para escolher somente
o que é prazeroso e fácil.
A ascese é importante para
realizarmos os nossos ideais. Somente as pessoas determinadas e esforçadas
vencem e conquistam os seus sonhos.
Muitas das situações que vivemos
resultam como falta de ascese em nosso viver. A modo de exemplo, cito duas
entre tantas outras. Cito-as pelas grandes dimensões que elas têm em nosso
viver: a questão ecológica e a do trânsito. A solução da primeira é complexa,
mas uma das coisas importantes é o aperfeiçoamento de hábitos ecologicamente
corretos. É mais fácil jogar algo no chão, deixar a torneira aberta, o lixo
espalhado do que empenhar-se em ter bons comportamentos, vivendo a assim
chamada “ética do cuidado”.
A indisciplina no trânsito, com
os consequentes elevados números de acidentes e mortes, faz-nos perceber a má
educação do motorista brasileiro que opta, no seu “jeitinho”, por soluções
frequentemente desastrosas. É preciso ter firmeza de caráter, ou seja,
consciência bem formada, bem como firmeza prática para obedecer as leis e
evitar danos a si mesmo e a outros.
É necessário ser asceta para ser
um bom cidadão, bem como para ser um bom cristão. Queremos transfigurar nós
mesmos e o mundo, buscando, da nossa parte, empenhar-nos em realizar cotidianamente,
o que consideramos significativo, bom, humano. Essa é uma forma de dizer
concretamente o que queremos ser e contribuir para a construção de uma
sociedade verdadeiramente civilizada, humana e cristã.
1 comentários :
Grande verdade em sua reflexão Pe. Pedro!!! A nossa indisciplina no exercício dessa ascese nos faz buscar o que custa menos, o que é mais fácil. E é esse jeito morno de sermos cristãos que vai nos afastando da perfeição e nos tornando prisioneiros dos nossos pequenos ou grandes vícios...Obrigada por despertar em nós a vontade de buscar a verdadeira ASCESE. Abraços!
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