A recitação do Salmo 122, com
aquele versículo: “Como os olhos dos servos estão fixos nas mãos de seus senhores, como os olhos das servas
estão fixos nas mãos de suas senhoras, assim nossos olhos estão voltados para o
Senhor, nosso Deus”, sempre me chamou a atenção. E a partir daí fiquei pensando
na importância do olhar no sentido da concentração da atenção que faz mover o
coração.
O olhar é suscitador de tantos sentimentos,
além de ser também manifestador dos mesmos. Os mais antigos falavam de seus
pais, com aquela educação rígida, dizendo que bastava somente um olhar para
perceber os que eles estavam a indicar. No universo do mundo dos afetos, há
dois adágios interessantes: “o que os olhos não veem, o coração não deseja” e
“longe dos olhos, longe do coração”.
Realmente nos relacionamentos
afetivos como é verdadeiro o que esses adágios transmitem. No que tange ao
primeiro, damo-nos conta, que grandes relações nasceram da contemplação de um
olhar, como canta a canção: “Quando nós trocamos o primeiro olhar, o meu
coração pediu pra se apaixonar, igual ao sol que nasce e só pertence ao dia.
Quando nasci o meu amor já te pertencia”.
O segundo adágio manifesta a
necessidade do cultivo da relação amorosa que nasceu no primeiro olhar, através
dos constantes cuidados, da necessidade do encontro, que não pode ser apenas
virtual, mas real, pois o outro é espírito e também é carne. Olhar através do
monitor, nunca será como olhar face a face.
Na verdade, o amor é contemplação.
Esta é a sua expressão mais profunda. Faz-me lembrar os dois namorados na praça
do jardim. Cessam as palavras e os dois permanecem no silêncio olhando e
acariciando a face um do outro. A oração, enquanto encontro amoroso, é
substancialmente contemplação. Que o digam os místicos, que se “perdiam”
absortos na contemplação de Deus, mistério infinito de amor.
Temos necessidade do silêncio e
da contemplação. Não somente são fontes de serenidade e paz interior, mas
sobretudo direcionam o coração para as realidades que devem movê-lo, para as
quais o seu pulsar deve estar orientado.
Precisamos contemplar o
Crucificado, olhar o seu lado aberto, fonte do amor sem fim, de onde jorraram
sangue e água. Como dissera o Papa Bento XVI, é de lá que aprenderemos em que
consiste o amor. Esse lado aberto de Jesus é a expressão máxima do seu amor,
manifestação de uma entrega total pela humanidade que foi desposada, assumida
em seu coração.
Necessitamos contemplar esse lado
aberto para crescer na arte de amar, superar as agruras advindas de desafetos, de
amores não correspondidos, de humanidades feridas e destroçadas que não
experimentaram o sentido original do amor: doação desinteressada pelo bem do
outro. Nessa contemplação, que espiritualmente no faz beijar o lado aberto do
Senhor, é gerado em nós um canto esponsal, como diz a música “Belíssimo Esposo”,
que abre o nosso coração para Deus e para os irmãos.
Como o salmista, queremos ter os
olhos fitos naquele lado, para que, apesar de tudo, o nosso coração não se
canse de amar, para termos sempre presente que fomos amados por primeiro, por
um amor que se disse todo e que nos convida a ser no mundo palavra que se diz
toda, até emudecer, simplesmente porque é movida por um
olhar.
Pe. Pedro Moraes Brito Júnior
1 comentários :
Eu gosto dos seus textos são profundos mas de fácil interpretação.por muito tempo eu não entendia olhares nem silêncio.pois ambos ten várias interpretações...
As vezes qdo eu converso com Deus e não percebo respostas...eu O digo pai, eu não entendo silêncio
... e continuo sem entender olhares...rsrs.
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