Jesus
sintetizou toda lei e os profetas no mandamento do amor a Deus e ao próximo.
Acrescentou que esse próximo não é somente o nosso conterrâneo, parente, amigo.
São também os nossos inimigos, aqueles que não suscitam nenhuma afeição em nós.
Pelo contrário deixaram lembranças, por vezes, amargas que fecharam o coração.
Diante
desse desafio, poderíamos perguntar: é surreal o que o Senhor nos pede? Não
está acima das nossas forças? Talvez até não se constitua em algo desumano indo
de encontro aos sentimentos do coração?
Sem
dúvida não é fácil, mas como diz o salmista, com Deus podemos fazer proezas
(cf. Sl 108,14). E uma delas é a vitória sobre nós mesmos, através da força de
vontade e o auxílio da graça. A história já nos apresentou situações de feridas
que foram cicatrizadas e braços que se cruzaram num movimento de acolhida recíproca.
Na
verdade, o outro, que parece aquela pedra no meio do caminho, pode ser o meu
grande estímulo para crescer no amor. É revelador da nossa indigência interior.
Da incapacidade de aceitar e acolher o outro como é. A dificuldade de
relacionamento, que fecha o coração, pode se constituir num grande momento para
nos repropor um caminhar crescente no amor.
Deus nos
ama apesar de nós. Essa é também a nossa meta procurando viver o convite do
Senhor: “sede misericordiosos como o vosso pai é misericordioso” (Lc 6,36). A
grandeza do amor de Deus, fá-lo olhar para a nossa pobreza, a nossa maldade com
amor. Diante do mal que praticamos, Deus somente lamenta por estarmos trilhando
um caminho que não nos realiza.
É
difícil olhar para a maldade do outro com amor, pois somos, às vezes, também
atingidos por ela. É difícil também porque “ o ‘inimigo’, pelo contrário,
estimula em mim emoções que não quero encarar: agressividade, ciúme, medo,
falsa dependência, ódio, todo esse mundo de trevas que existe em mim”.
A falta
de aceitação de que somos pobres, mistura de luz e trevas, de qualidades e
defeitos, continua Jean Vanier, faz com que eu divida o mundo entre amigos e
inimigos e levante barreiras em mim e fora de mim, espalhando preconceitos.
Quando,
pelo contrário, afirma ainda o supracitado autor, “aceito ter fraquezas e
defeitos, mas também poder progredir para a liberdade interior e para um amor
mais verdadeiro, então posso aceitar os defeitos e fraquezas do outro; eles
também podem progredir para a liberdade do amor. Posso olhar todos os homens
com realismo e com amor. Somos todos pessoas frágeis e mortais, mas temos uma
esperança, pois é possível crescer”.
Não
obstante o incômodo que o outro possa nos trazer, paradoxalmente ele é uma luz
no nosso caminho, indicando-nos que precisamos ainda crescer no amor para
aceitá-lo e acolhê-lo. Aponta-nos também que precisamos mergulhar no oceano
infinito do amor de Deus para reconhecê-Lo na face outro. Sejam benditos os difíceis que nos convidam a
sair da mediocridade e da presunção de que somos melhores. Eles nos fazem entender que precisamos trilhar
o caminho do amor gratuito apontado por Cristo, que nos
leva a ser grandes no coração e a não colocar nem medidas, nem fronteiras no
mesmo. Senhor, obrigado pelos que colocaste em meu caminho, fazendo-me ver que
preciso dar passos e aproximar-me mais de Ti!
Pe. Pedro Moraes Brito Júnior
2 comentários :
Li num livro que o orgulho tão bem instalado e calcado no nosso coração é como uma montanha onde só com o auxílio da Graça e muita docilidade podemos derrubar. E justamente ele, o orgulho, não nos deixa perceber que muita vezes não é o outro o 'próximo difícil' mas sim, eu. É duro. Mas também é libertador. Obrigada pelo texto que me sacode, despertando em mim uma Luz, um olhar novo sobre os relacionamentos. Sua bênção!
Muito gratificante o texto. Podemos entender melhor as pessoas difíceis em nossas vidas.obrigada padre. Nos traga sempre conteúdos assim. Paz e bem.
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