Os Atos dos Apóstolos relatam uma
carta de Paulo aos cristãos de Éfeso. Ele se encontra em Mileto e deverá partir
para Jerusalém. O apóstolo despede-se da comunidade porque sente que não
tornará a encontrá-la. Nessa missiva Paulo diz que vai à Cidade Santa movido
pela ação do Espírito, utilizando- se da frase: “prisioneiro do Espírito”.
Essa expressão do apóstolo é
forte e rica para exprimir o viver cristão como vida no Espírito. Trata-se de
um itinerário sob a moção e condução do Espírito, tornando-se, dessa forma,
refém d’Ele. Ser prisioneiro do Divino Paráclito é envolver-se no seu amor,
pois Ele é o amor por excelência que une o Pai e o Filho.
A vida cristã outra coisa não é
que caridade posta em ação. Traduz-se numa busca constante de crescimento no
amor, alargamento das fronteiras do coração, universalização do espírito
fraterno. A concretização de tudo isso em nossa vida não é fruto apenas do
esforço, mas se dá através de um dom que o Espírito derrama em nós.
É Ele que realiza a obra de
humanização, santificação em nós, “amorizando-nos”. O coração ferido, magoado e
ressentido; a história de vida, por vezes, traumática são possíveis de ser
refeitos graças à ação do Consolador que desfaz as desolações da vida,
tornando-nos capazes de ser presença melhor integrada em meio às pessoas.
É Ele que nos faz entender, como
afirma o Apóstolo na supracitada carta, que a nossa vida não deve ser preciosa
para nós mesmos. Ser prisioneiro do Espírito é viver “em saída”, como nos
convida o Papa Francisco. Saída em primeiro lugar de si próprio, procurando
“ser para” os outros como também nos adverte o Papa Bento.
O Espírito nos liberta de um
viver autorreferenciado, centrípeto. Como força comunicativa de amor, Ele nos
conduz a construir a cultura do encontro e da solidariedade que nos faz estar
com as pessoas e interessar-nos por elas. Ele nos tira das nossas quatro
paredes e gera em nós um amor compassivo e oblativo.
Prisioneiros n’Ele, trilhamos um
caminho de libertação de um viver na carne. Esse viver é egoísmo, fechamento,
ressentimento, inveja, desamor. No Espírito queremos viver a mais bela
liberdade, que é libertação de todo mal e tornar-nos livre para amar, como um
pássaro que tem a imensidão do céu e pode ir a qualquer recanto.
A prisão no Espírito, além de
gerar a liberdade no amor, faz com que esse amor seja efetivo traduzindo-se em
obras. O Espírito nos faz fecundos, levando-nos a produzir frutos para a vida
do mundo, permitindo-nos ser artífices de uma cultura da paz, da fraternidade e
sobretudo da vida e do amor.
Pe. Pedro Moraes Brito Júnior
1 comentários :
Muito reflexivo e pertinente aos nossos dias.
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