quarta-feira, 20 de maio de 2015

Prisioneiro do Espírito


Os Atos dos Apóstolos relatam uma carta de Paulo aos cristãos de Éfeso. Ele se encontra em Mileto e deverá partir para Jerusalém. O apóstolo despede-se da comunidade porque sente que não tornará a encontrá-la. Nessa missiva Paulo diz que vai à Cidade Santa movido pela ação do Espírito, utilizando- se da frase: “prisioneiro do Espírito”.

Essa expressão do apóstolo é forte e rica para exprimir o viver cristão como vida no Espírito. Trata-se de um itinerário sob a moção e condução do Espírito, tornando-se, dessa forma, refém d’Ele. Ser prisioneiro do Divino Paráclito é envolver-se no seu amor, pois Ele é o amor por excelência que une o Pai e o Filho.

A vida cristã outra coisa não é que caridade posta em ação. Traduz-se numa busca constante de crescimento no amor, alargamento das fronteiras do coração, universalização do espírito fraterno. A concretização de tudo isso em nossa vida não é fruto apenas do esforço, mas se dá através de um dom que o Espírito derrama em nós.

É Ele que realiza a obra de humanização, santificação em nós, “amorizando-nos”. O coração ferido, magoado e ressentido; a história de vida, por vezes, traumática são possíveis de ser refeitos graças à ação do Consolador que desfaz as desolações da vida, tornando-nos capazes de ser presença melhor integrada em meio às pessoas.

É Ele que nos faz entender, como afirma o Apóstolo na supracitada carta, que a nossa vida não deve ser preciosa para nós mesmos. Ser prisioneiro do Espírito é viver “em saída”, como nos convida o Papa Francisco. Saída em primeiro lugar de si próprio, procurando “ser para” os outros como também nos adverte o Papa Bento.

O Espírito nos liberta de um viver autorreferenciado, centrípeto. Como força comunicativa de amor, Ele nos conduz a construir a cultura do encontro e da solidariedade que nos faz estar com as pessoas e interessar-nos por elas. Ele nos tira das nossas quatro paredes e gera em nós um amor compassivo e oblativo.

Prisioneiros n’Ele, trilhamos um caminho de libertação de um viver na carne. Esse viver é egoísmo, fechamento, ressentimento, inveja, desamor. No Espírito queremos viver a mais bela liberdade, que é libertação de todo mal e tornar-nos livre para amar, como um pássaro que tem a imensidão do céu e pode ir a qualquer recanto.

A prisão no Espírito, além de gerar a liberdade no amor, faz com que esse amor seja efetivo traduzindo-se em obras. O Espírito nos faz fecundos, levando-nos a produzir frutos para a vida do mundo, permitindo-nos ser artífices de uma cultura da paz, da fraternidade e sobretudo da vida e do amor.


Pe. Pedro Moraes Brito Júnior

1 comentários :

Muito reflexivo e pertinente aos nossos dias.

Postar um comentário