Na recitação do Angelus desse domingo, o Papa Bento XVI,
comentando os textos da liturgia da Palavra, os quais falavam da viúva de
Sarepta e da viúva do templo, destacou o nexo entre fé e caridade, amor a Deus
e amor aos irmãos. A fé em Deus não se limita a ser um ato puramente vertical,
uma relação individual com Ele, mas se manifesta no amor aos irmãos. Tem, desse
modo, uma dimensão horizontal, histórica, concreta.
Vivemos um momento cultural em
que muito se valoriza a individualidade, a subjetividade. O homem de hoje dá
muitas voltas ao redor de si mesmo. A intersubjetividade e a dimensão
comunitária, neste universo, perdem força. As próprias relações são vivenciadas
em vista dos interesses pessoais.
As conseqüências de um viver
deste gênero se fazem sentir em vários âmbitos. A mo de exemplo, gostaria de
destacar o ecológico. Não é possível ter um estilo de vida, onde se esqueça que
o mundo é apenas o meu habitat, mas também dos que convivem comigo e das
gerações futuras. A população hodierna está sendo interpelada sobre o legado
ambiental que está deixando para as pessoas do futuro.
O questionamento refere-se,
sobretudo ao consumo desmedido que alguns se entregam cooptados por uma
possante investida de marketing. Isto faz com que no mundo haja um grande
contrasenso: os que vivem na opulência, no supérfluo; e os que vivem na indigência,
sem o essencial.
Não é possível caminhar nas
estradas deste mundo vivendo na indiferença do que acontece ao nosso redor,
sobretudo no que acontece a criatura mais excelente do planeta: o homem. Não
podemos permanecer em paz, sabendo que ainda há fome, miséria e tantas
calamidades que afligem o ser humano.
As vezes podemos querer lavar as
nossas mãos, transferindo para o Estado a responsabilidade da estabilidade
social e do bem-estar para todos os cidadãos. Contudo, em nome da nossa fé, o
outro é um nosso irmão e não podemos cair nas malhas do egoísmo e responder como
Caim: “Sou eu o guarda do meu irmão?” (Gn 4,9).
Somos sim responsáveis uns pelos
outros, tanto materialmente, como espiritualmente e não podemos permanecer em
paz e nem nos permitir o luxo excessivo, o desperdício e tantas outras coisas
mais que bradam o céu diante de quem não tem, por exemplo, o que comer. Não
podemos deixar que a crosta do egoísmo torne-se mais espessa, motivada pela
triste atitude da indiferença.
As viúvas dos textos sagrados
deram do essencial, não partilharam apenas o que sobrava, foram magnânimas em
seu gesto, por isto, Jesus exaltou a viúva, fazendo valer a lógica da
qualidade: deu mais não porque dou um grande quantia, mas porque deu do seu necessário. “Tudo vale a pena,
quando a alma não é pequena”. Vale a pena o nosso pouco que ajuda a minorar a
dor de quem sofre, vale a pena a nossa solidariedade, o que não vale a pena e
contradiz o nosso ser e aquilo a que fomos chamados é o coração egoísta que nos
faz fechar, olhos, braços e mãos ao irmão.

1 comentários :
...e sermos insensíveis à dor alheia.
Vale a pena pe. Pedro Júnior, isto que dizes e deve ser dito sempre!! Parabéns por ser assim sensível, como Jesus.
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