segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Abrir-se ao outro


Na recitação do Angelus desse domingo, o Papa Bento XVI, comentando os textos da liturgia da Palavra, os quais falavam da viúva de Sarepta e da viúva do templo, destacou o nexo entre fé e caridade, amor a Deus e amor aos irmãos. A fé em Deus não se limita a ser um ato puramente vertical, uma relação individual com Ele, mas se manifesta no amor aos irmãos. Tem, desse modo, uma dimensão horizontal, histórica, concreta.

Vivemos um momento cultural em que muito se valoriza a individualidade, a subjetividade. O homem de hoje dá muitas voltas ao redor de si mesmo. A intersubjetividade e a dimensão comunitária, neste universo, perdem força. As próprias relações são vivenciadas em vista dos interesses pessoais.

As conseqüências de um viver deste gênero se fazem sentir em vários âmbitos. A mo de exemplo, gostaria de destacar o ecológico. Não é possível ter um estilo de vida, onde se esqueça que o mundo é apenas o meu habitat, mas também dos que convivem comigo e das gerações futuras. A população hodierna está sendo interpelada sobre o legado ambiental que está deixando para as pessoas do futuro.

O questionamento refere-se, sobretudo ao consumo desmedido que alguns se entregam cooptados por uma possante investida de marketing. Isto faz com que no mundo haja um grande contrasenso: os que vivem na opulência, no supérfluo; e os que vivem na indigência, sem o essencial.

Não é possível caminhar nas estradas deste mundo vivendo na indiferença do que acontece ao nosso redor, sobretudo no que acontece a criatura mais excelente do planeta: o homem. Não podemos permanecer em paz, sabendo que ainda há fome, miséria e tantas calamidades que afligem o ser humano.

As vezes podemos querer lavar as nossas mãos, transferindo para o Estado a responsabilidade da estabilidade social e do bem-estar para todos os cidadãos. Contudo, em nome da nossa fé, o outro é um nosso irmão e não podemos cair nas malhas do egoísmo e responder como Caim: “Sou eu o guarda do meu irmão?” (Gn 4,9).

Somos sim responsáveis uns pelos outros, tanto materialmente, como espiritualmente e não podemos permanecer em paz e nem nos permitir o luxo excessivo, o desperdício e tantas outras coisas mais que bradam o céu diante de quem não tem, por exemplo, o que comer. Não podemos deixar que a crosta do egoísmo torne-se mais espessa, motivada pela triste atitude da indiferença.

As viúvas dos textos sagrados deram do essencial, não partilharam apenas o que sobrava, foram magnânimas em seu gesto, por isto, Jesus exaltou a viúva, fazendo valer a lógica da qualidade: deu mais não porque dou um grande quantia, mas porque  deu do seu necessário. “Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena”. Vale a pena o nosso pouco que ajuda a minorar a dor de quem sofre, vale a pena a nossa solidariedade, o que não vale a pena e contradiz o nosso ser e aquilo a que fomos chamados é o coração egoísta que nos faz fechar, olhos, braços e mãos ao irmão.

1 comentários :

...e sermos insensíveis à dor alheia.
Vale a pena pe. Pedro Júnior, isto que dizes e deve ser dito sempre!! Parabéns por ser assim sensível, como Jesus.

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