quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Uma ética da perfeição



O jovem rico do capítulo dezenove de Mateus, depois de ter escutado Jesus, que lhe indica o caminho dos mandamentos como meio para obtenção da vida eterna, recebe d’Ele uma nova resposta, após ter dito ao Mestre o seguinte: “Tudo isso tenho guardado. Que me falta ainda?” Ao que Jesus lhe afirma: “Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens e dá aos pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois, vem e segue-me”.
Jesus convida o jovem ao seu seguimento, a percorrer a sua estrada. Propõe aquilo que constitui o cerne da vida cristã: segui-Lo.  Tendo presente a primeira pergunta do moço rico, que era de caráter ético, – “Mestre que devo fazer de bom para alcançar a vida eterna” –, podemos dizer que Jesus também propõe o seu ensinamento sobre a ética cristã. Esta, como bem afirma o Bem Aventurado João Paulo II, encontra no seguimento o seu fundamento essencial e original.

O viver moral, por conseguinte, traduz-se na busca do seguimento de Jesus.  Tal afirmação implica em ter presente que a ética cristã supõe uma dimensão relacional, ou seja, a adesão a uma pessoa e busca de conformação a ela.  “Trata-se, mais radicalmente, de aderir à própria pessoa de Cristo, de compartilhar a sua vida e o seu destino, de participar da sua obediência livre e amorosa à vontade do Pai”.
O início da resposta de Jesus ao Jovem é muito significativo para a compreensão do seguimento.  Este é, antes de tudo, uma proposta de Jesus, um seu chamado, diante do qual o homem deve dar sua resposta livre.

É Jesus que chama e o viver ético consiste em fazer jus ao chamado. Este ganha uma configuração muito especial. Trata-se de um chamado à perfeição: “Se queres ser perfeito...” . Jesus convida o jovem, não a trilhar qualquer estrada, mas aquela da perfeição. Mas esta diz respeito a que? A uma observância escrupulosa, nos moldes dos fariseus da época à normas e mandamentos? Que perfeição é esta?

Trata-se de uma perfeição no amor. Este sintetiza toda a lei e se exprime na indissociabilidade do amor a Deus e aos irmãos. Consiste no fazer-se dom de si às pessoas. Neste sentido, o desapego de si próprio e dos bens, aos quais é convidado o jovem, é uma indicação de que o seguidor de Jesus não vive para si mesmo, mas encontra, na doação de sua vida aos irmãos, a razão de ser do seu existir. Vai compreendendo, que é chamado a ser grão de trigo, como exprimiu Jesus: “Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só; mas se morrer, produzirá muito fruto” (Jo 12,24).

A resposta de Jesus ao jovem rico salienta a altíssima vocação do cristão e da ética cristã: perfeição no amor. É banido todo comportamento que se modele a partir da obrigação ou da busca de fazer o mínimo necessário. O cristão é alguém que é chamado a ser grande no amor. A medida de sua fidelidade a Cristo é a medida do seu amor a Deus e aos irmãos.

Pe. Pedro Moraes Brito Júnior

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