O tema da identidade figura como umas das questões mais importantes do existir humano. O homem é o único ser que tem consciência da sua existência e que a ela busca dar um sentido. Sem dúvida alguma, a reflexão do significado da vida passa pela compreensão que a pessoa tem de si mesma, pelo o que ela é, assim como o amor ao outro passa pela capacidade de amar a si mesmo.
A importância desta questão já aparece na reflexão grega, quando no templo de Delfos está estampado o convite para o autoconhecimento, para a descoberta de quem se é: “conhece-te a ti mesmo”. Na verdade esta é uma questão que nos acompanhará toda a vida. Na adolescência, porém, ela se impõe de um modo incisivo justamente porque os traços decisivos da nossa personalidade deverão ser postos, configurando-nos na nossa especificidade.
Falar em identidade significa compreender-se como único. Trata-se de uma unicidade não somente no âmbito biológico, sobretudo, genético, mas psíquico. O desenvolvimento da pessoa, com todos os tipos de experiência que ela pode fazer, a performa, faz com que ela tenha uma singularidade, derivante do modo próprio de vivenciar tudo quanto pode experienciar.
Sendo assim, podemos afirmar que a nossa identidade configura-se a partir de várias realidades que dependem e independem de nós mesmos. Nós somos o tempo que passamos sendo gestados no útero materno, somos o tempo da nossa infância e adolescência, da juventude e idade adulta, somos a nossa escola, os livros que lemos, as amizades que fazemos, a história na sua espacialidade e temporalidade. Nós somos múltiplos.
Dentre estas várias realidades que nos configuram, destaque seja dado ao outro enquanto se me afigura como um TU. Como é importante saber que o nosso EU só foi possível existir por causa de um TU. Aprendemos a ser pessoa diante de outra, nossa subjetividade foi plasmada diante da alteridade. Por conseguinte o egoísmo, enquanto fechamento em si mesmo, é a realidade que contraria a natureza do ser humano. Fechar-se ao outro é negar-se a possibilidade de ser.
Cristo na sua encarnação fez-se outro para nós, tornou-se um TU em nossa vida. Ele é a manifestação plena da humanidade, do ser humanum. No mistério d’Ele, como nos disse o Concílio Vaticano II, se desvela o mistério do homem. Portanto, aproximar-se d’Ele é dar-se a si próprio a possibilidade de ser em plenitude, de encontra-se. Voltar-se para Cristo, estabelecer comunhão com Ele, fazendo jus ao seu desejo de estabelecer comunhão conosco, é poder trilhar por um caminho que nos faz ser pessoa na integralidade. Ele nada nos tolhe da nossa condição de seres humanos, de pessoa, pelo contrário ajuda-nos a percorrer um caminho onde a nossa identidade, por vezes chagada e ferida, pode encontrar a libertação, a graça que remedia e cura.
Lancemo-nos na aventura de nos fazer pertencer de todo a Cristo, de relacionar-nos com Ele e experimentemos a grandiosa alegria de sermos pessoa n’Ele.
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