Quando pela primeira vez Jesus encontra Natanael, refere-se
a ele como um homem em quem não há falsidade (cf. Jo 1,47). O Senhor reconheceu
nele uma figura transparente, diáfana em que não há dicotomia entre o interior
e o exterior, entre o que verdadeiramente pensa e o que concretamente exprime
em atos e palavras.
O valor da autenticidade permanece em baixa na sociedade da
imagem e da aparência. Buscando corresponder às suas expectativas, procura-se
ser o que não se é. A tentativa, por exemplo, de viver nos ditames do mundo da
moda, leva muitos a fazer altos gastos que na verdade fogem às suas
possibilidades. Contraindo sérios débitos que, por vezes, não são capazes de
honrar.
A falta de autenticidade diz respeito também às pessoas para
consigo mesmas. Vivem uma ideia de si próprias que não corresponde à
realidade. Pode-se chegar a uma
auto-alienação em que a pessoa não se dá conta de si. Ainda pior, a máscara
colocada ou o papel vivenciado vão se tornando uma realidade com a qual a
pessoa se identifica. Deixa de ser ela mesma.
Em âmbito relacional, chega-se a até à hipocrisia. Há quem
vive em mudanças contínuas porque busca
adaptar-se aos gostos de quem se mantém em contato, aqueles que estão
“por cima”. Torna-se progressista ou conservador conforme for necessário. Não
existem mais convicções, certezas. O que importa é agradar quem está no
comando. Esquece-se que o contraponto é extremamente enriquecedor na busca de
encontrar o melhor.
Há quem ainda recorra às bajulações, aos elogios desmedidos
– quem está de fora percebe claramente a inautenticidade do que se diz – procurando
estabelecer relações que considera necessárias e proveitosas em benefício
próprio. Em certos casos, estabelece-se um verdadeiro e próprio jogo de
hipocrisia. Trata-se de uma diplomacia impostada na recíproca falsidade: as
partes vivem um jogo falso: finge-se dizer algo verdadeiro, bem como finge-se
acreditar na pseudo-verdade.
O deletério disso tudo é o comprometimento de um valor tão
fundamental como o da verdade. Este, na hierarquia dos valores, situa-se entre
os fundamentais. Aristóteles afirmava que preferia a verdade à amizade. Sem
dúvida, quando as relações não são construídas na verdade, elas são como
castelos feitos na areia, não têm consistência e se desfazem muito facilmente.
Somos seguidores daquele que se autodefiniu como a verdade:
eu sou o caminho, a verdade e a vida (Jo 14,6). Como afirma o próprio Jesus, o
nosso viver deve ser sim, sim ou não, não. O que passa disso vem do Maligno
(cf. Mt 5,37). Nesse sentido, a verdade e a vida são duas referências
fundamentais que devem caracterizar a vida do discípulo de Cristo. Um viver que
é engano para si próprio e para os outros é, na verdade, um viver demoníaco
como assim nos relatam as primeiras páginas do livro do Gênesis.
É preciso viver a diaconia da verdade, que sem dúvida alguma
se entrelaça com o amor. Este exige a verdade porque supõe o conhecimento. E a verdade é um gesto de amor porque promove
a pessoa a partir da sua realidade. Quem ama não engana. Como diz o apóstolo, o
nosso amor deve ser sincero (cf. Rm 12,9), não ocultando ao outro a sua
realidade. A verdade vivida no amor, porém, supõe uma pedagogia que conhece
momentos e modos de ser aplicada. Não se trata de ser verdadeiro a todo custo,
mas de comprometer-se com ela, buscando o discernimento de como e quando dizer
o que outro necessita ouvir. O que
importa é ser verdadeiro e não fazer-se de tal.
Pe. Pedro Moraes Brito Júnior
1 comentários :
Se todos soubessem amar. .
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