sábado, 19 de setembro de 2015

O desafio de amar


Jesus sintetizou toda lei e os profetas no mandamento do amor a Deus e ao próximo. Acrescentou que esse próximo não é somente o nosso conterrâneo, parente, amigo. São também os nossos inimigos, aqueles que não suscitam nenhuma afeição em nós. Pelo contrário deixaram lembranças, por vezes, amargas que fecharam o coração.

Diante desse desafio, poderíamos perguntar: é surreal o que o Senhor nos pede? Não está acima das nossas forças? Talvez até não se constitua em algo desumano indo de encontro aos sentimentos do coração?

Sem dúvida não é fácil, mas como diz o salmista, com Deus podemos fazer proezas (cf. Sl 108,14). E uma delas é a vitória sobre nós mesmos, através da força de vontade e o auxílio da graça. A história já nos apresentou situações de feridas que foram cicatrizadas e braços que se cruzaram num movimento de acolhida recíproca.

Na verdade, o outro, que parece aquela pedra no meio do caminho, pode ser o meu grande estímulo para crescer no amor. É revelador da nossa indigência interior. Da incapacidade de aceitar e acolher o outro como é. A dificuldade de relacionamento, que fecha o coração, pode se constituir num grande momento para nos repropor um caminhar crescente no amor.

Deus nos ama apesar de nós. Essa é também a nossa meta procurando viver o convite do Senhor: “sede misericordiosos como o vosso pai é misericordioso” (Lc 6,36). A grandeza do amor de Deus, fá-lo olhar para a nossa pobreza, a nossa maldade com amor. Diante do mal que praticamos, Deus somente lamenta por estarmos trilhando um caminho que não nos realiza.

É difícil olhar para a maldade do outro com amor, pois somos, às vezes, também atingidos por ela. É difícil também porque “ o ‘inimigo’, pelo contrário, estimula em mim emoções que não quero encarar: agressividade, ciúme, medo, falsa dependência, ódio, todo esse mundo de trevas que existe em mim”.

A falta de aceitação de que somos pobres, mistura de luz e trevas, de qualidades e defeitos, continua Jean Vanier, faz com que eu divida o mundo entre amigos e inimigos e levante barreiras em mim e fora de mim, espalhando preconceitos.

Quando, pelo contrário, afirma ainda o supracitado autor, “aceito ter fraquezas e defeitos, mas também poder progredir para a liberdade interior e para um amor mais verdadeiro, então posso aceitar os defeitos e fraquezas do outro; eles também podem progredir para a liberdade do amor. Posso olhar todos os homens com realismo e com amor. Somos todos pessoas frágeis e mortais, mas temos uma esperança, pois é possível crescer”.

Não obstante o incômodo que o outro possa nos trazer, paradoxalmente ele é uma luz no nosso caminho, indicando-nos que precisamos ainda crescer no amor para aceitá-lo e acolhê-lo. Aponta-nos também que precisamos mergulhar no oceano infinito do amor de Deus para reconhecê-Lo na face outro.  Sejam benditos os difíceis que nos convidam a sair da mediocridade e da presunção de que somos melhores.  Eles nos fazem entender que precisamos trilhar o caminho do amor gratuito apontado por Cristo, que nos leva a ser grandes no coração e a não colocar nem medidas, nem fronteiras no mesmo. Senhor, obrigado pelos que colocaste em meu caminho, fazendo-me ver que preciso dar passos e aproximar-me mais de Ti!



Pe. Pedro Moraes Brito Júnior

2 comentários :

Li num livro que o orgulho tão bem instalado e calcado no nosso coração é como uma montanha onde só com o auxílio da Graça e muita docilidade podemos derrubar. E justamente ele, o orgulho, não nos deixa perceber que muita vezes não é o outro o 'próximo difícil' mas sim, eu. É duro. Mas também é libertador. Obrigada pelo texto que me sacode, despertando em mim uma Luz, um olhar novo sobre os relacionamentos. Sua bênção!

Muito gratificante o texto. Podemos entender melhor as pessoas difíceis em nossas vidas.obrigada padre. Nos traga sempre conteúdos assim. Paz e bem.

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