No sermão da montanha, Jesus faz
um convite a trilhar um caminho que se caracteriza pela busca de perfeição no
amor. É nisto que consiste o viver cristão. Em palavras modernas, poderíamos
dizer que é uma procura permanente de humanização.
A vontade de crescer e querer dar
passos significativos em nossa vida, superando limitações, defeitos e pecados,
constituem-se no nosso empenho constante e contínuo. Na verdade é este o bom
combate do cristão: travar uma batalha para atingir sua estatura em Cristo
Jesus.
Jesus nos diz que a nossa justiça
deve superar a dos escribas e fariseus (cf. Mt 5,20), que se caracterizava por
um cumprimento legalista das prescrições. A preocupação era somente de fazer
aquilo que a lei mandava, não indo mais adiante.
Na interpretação dos mandamentos,
Jesus vai mais adiante, significando-os e informando-os com o princípio da
caridade, que é a normativa fundamental da fé cristã. No que tange
especificamente ao quinto mandamento, “não matarás”, o Senhor não apenas
limita-se a entendê-lo no que se refere ao respeito à vida, que por ser
sagrada, é inviolável.
O Senhor mostra que o quinto
mandamento tem mais implicações que vão além da agressão física. Podemos
“matar” as pessoas com a indiferença, com palavras ofensivas ou até mesmo com o
simples fato de furtar-nos a estabelecer comunicação com elas. Também podemos
“matar” as pessoas com uma atitude que não corresponde ao fim para o qual fomos
criados. Trata-se da maledicência.
Fomos criados para bendizer,
dizer coisas boas e não para maldizer, dizer coisas más. A maledicência é algo
que fere o principio da caridade cristã que deve levar-nos a zelar-nos pela boa
fama que as pessoas têm direito a ter. Não devemos sentir o prazer de divulgar
ou espalhar os limites e dificuldades dos outros, mesmo quando estejamos, de
todo, seguros do que fizeram.
Se mesmo com a certeza dos atos
maus praticados pelos outros não devemos “subir aos telhados”, quanto mais quando
a informação trata-se de rumores que por vezes são infundados e tem na origem
outras razões.
Falar mau e chegar até a caluniar
alguém é, moralmente, matá-lo. Trata-se de praticar uma ação que não tem
retorno e de difícil reparação. São Felipe Nery demonstra tal realidade quando
pede a um casal que depene uma galinha e, em seguida, recolha as penas após
jogá-las de cima de uma torre bem alta. Diante da impossibilidade do ato de
recolhimento, retrucado pelo casal, o santo italiano fala que assim é o mal da
calúnia, da fofoca. Não tem praticamente possibilidade de reversão.
São Tiago, na sua carta, alerta que
não podemos ter uma língua ambígua (cf. Tg 3,9-12). Assim como de uma fonte não
pode jorrar água doce e salgada, da boca do discípulo de Jesus não deve haver
espaço para o mal dizer: “Aquele que não peca no falar é realmente um homem
perfeito” (Tg 3,2).
Queremos ser sóbrios no que diz
respeito a boca, não somente no comer, para termos uma bela silhueta física;
mas também no falar para termos uma bela silhueta espiritual. Esta implica em
ser sóbrio, discreto, saber silenciar, perguntar-se sobre o que se pode fazer
para ajudar, rezar entregar a Deus e, não, ter o prazer noticiar.
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