quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

"Trafitto da un raggio di sole" - Ferido por um raio de sol

Com a amiga italiana, Maria Rosa, aprendi a poesia de um poeta italiano, Salvatore Quasimodo, que diz o seguinte: Ognuno sta solo sul cuor della terra, trafitto da un raggio di sole: ed subito sera - Cada um está sozinho no coração da terra, ferido por um raio de sol: e logo se faz noite.
Um texto poético nasce da riqueza de um coração que o cria, bem como é prenhe da riqueza de quem o interpreta. Gostaria de destacar com ele a situação humana, que por vezes pode parecer privada de sentido, mas ganha um horizonte de significação quando iluminada pela fé.
O caminho de nossa vida pode se constituir numa estrada de solidão, onde frequentemente temos que administrar perdas. Trata-se do destaque da terra natal por causa de trabalhos, estudos. Assim temos que deixar família, vizinhos, amigos. Um dia devemos nos separar dos colegas da infância e da escola. O próprio fato de visitar um amigo nos faz viver a alegria do reencontro, bem como a tristeza da hora da despedida.
Existem situações que gostaríamos de eternizar, fazer o tempo parar, mas como diz a canção: o tempo não para. Subito è sera – Logo se faz noite. Esta é outra experiência que vivemos no tempo: a fugacidade, tudo passa: nossa infância, adolescência, juventude, pais, vizinhos, amigos.
É claro que esta transitoriedade tem também o lado positivo. A vida se torna um leque de possibilidades, em que podemos, no tempo que passa, viver novas experiências, refazer-nos e reorientar o nosso caminho, por vezes perdido. Contudo, de novo, tudo passará.
Diante desse contínuo devir, podemos nos perguntar: o que fazemos neste mundo? Que sentido tem a vida? Para onde vamos? Qual será o nosso fim?. Tais perguntas tornam-se mais intensas, quando temos que fazer passagens dolorosas: o imprevisto da doença, a perda de entes queridos, uma frustração ou decepção vivida.
Contudo, nesse tempo que logo se faz noite e onde podemos nos sentir sozinhos, somos trafitti da un raggio di soleferidos por um raio de sol que se chama fé e que nos faz perceber, que na realidade, o nosso caminho não é uma estrada de solidão. O Senhor se faz o nosso companheiro de caminhada. Não somos sem eira nem beira. Como aos discípulos de Emaús, Ele trilha conosco, compartilhando a nossa vida e aquecendo o nosso coração para prosseguirmos em frente.
Neste ano da fé, queremos redescobri-la, como o raio de sol num dia de inverno. Nos países de intenso frio, a luz solar numa jornada invernal é muito significativa. Pode servir de metáfora para compreendermos a fé como fonte de sentido para o nosso viver, como o raio de sol que ilumina o nosso viver temporal e o projeta para além das circunstâncias que o envolvem.
A simbologia cristã sempre representou a fé com a vela, com a luz. Esta rompe a escuridão, dá cores as coisas e nos faz perceber a diversidade da beleza do mundo que a noite esconde. Queremos ser homens e mulheres de fé, que olham o mundo para além das realidades e acontecimentos que assinalam o nosso viver, sabendo que a Luz brilhou no meio de nós, Jesus Cristo! O nosso viver não será fadado a se fazer noite, mas a ser transfigurado e a resplandecer com uma intensidade que nem podemos imaginar.
Pe. Pedro Moraes Brito Júnior

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