
Um texto poético nasce da riqueza
de um coração que o cria, bem como é prenhe da riqueza de quem o interpreta.
Gostaria de destacar com ele a situação humana, que por vezes pode parecer
privada de sentido, mas ganha um horizonte de significação quando iluminada
pela fé.
O caminho de nossa vida pode se
constituir numa estrada de solidão, onde frequentemente temos que administrar
perdas. Trata-se do destaque da terra natal por causa de trabalhos, estudos.
Assim temos que deixar família, vizinhos, amigos. Um dia devemos nos separar
dos colegas da infância e da escola. O próprio fato de visitar um amigo nos faz
viver a alegria do reencontro, bem como a tristeza da hora da despedida.
Existem situações que gostaríamos
de eternizar, fazer o tempo parar, mas como diz a canção: o tempo não para. Subito è
sera – Logo se faz noite. Esta é outra experiência que vivemos no tempo: a
fugacidade, tudo passa: nossa infância, adolescência, juventude, pais,
vizinhos, amigos.
É claro que esta transitoriedade
tem também o lado positivo. A vida se torna um leque de possibilidades, em que
podemos, no tempo que passa, viver novas experiências, refazer-nos e reorientar
o nosso caminho, por vezes perdido. Contudo, de novo, tudo passará.
Diante desse contínuo devir,
podemos nos perguntar: o que fazemos neste mundo? Que sentido tem a vida? Para
onde vamos? Qual será o nosso fim?. Tais perguntas tornam-se mais intensas,
quando temos que fazer passagens dolorosas: o imprevisto da doença, a perda de
entes queridos, uma frustração ou decepção vivida.
Contudo, nesse tempo que logo se faz noite e onde podemos nos
sentir sozinhos, somos trafitti da un raggio
di sole – feridos por um raio de sol
que se chama fé e que nos faz perceber, que na realidade, o nosso caminho não é
uma estrada de solidão. O Senhor se faz o nosso companheiro de caminhada. Não
somos sem eira nem beira. Como aos
discípulos de Emaús, Ele trilha conosco, compartilhando a nossa vida e
aquecendo o nosso coração para prosseguirmos em frente.
Neste ano da fé, queremos
redescobri-la, como o raio de sol num
dia de inverno. Nos países de intenso frio, a luz solar numa jornada invernal é
muito significativa. Pode servir de metáfora para compreendermos a fé como fonte
de sentido para o nosso viver, como o raio de sol que ilumina o nosso viver
temporal e o projeta para além das circunstâncias que o envolvem.
A simbologia cristã sempre
representou a fé com a vela, com a luz. Esta rompe a escuridão, dá cores as
coisas e nos faz perceber a diversidade da beleza do mundo que a noite esconde.
Queremos ser homens e mulheres de fé, que olham o mundo para além das
realidades e acontecimentos que assinalam o nosso viver, sabendo que a Luz
brilhou no meio de nós, Jesus Cristo! O nosso viver não será fadado a se fazer noite, mas a ser transfigurado e
a resplandecer com uma intensidade que nem podemos imaginar.
Pe. Pedro Moraes Brito Júnior
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