Iesus Christus heri et hodie ipse et in saecula (Hb 13,8).

Caro Internauta, é uma alegria tê-lo como visitante do nosso blog. Aqui queremos partilhar pensamentos e reflexões que possam ajudá-lo na sua caminhada de fé e enriquecer a sua vida cristã. Você também pode ser participante ativo deste nosso meio de comunicação, deixando seus comentários e oferecendo suas sugestões.

Dessa forma , podemos estabelecer um diálogo com enriquecimento mútuo. Nosso objetivo, sobretudo, é evangelizar e esperamos que aqui você possa encontrar elementos que contribuam para o seu desenvolvimento como pessoa e como cristão. Deus abençoe você que nos visita. Que Ele oriente e guie os caminhos de sua vida. Em Cristo Jesus, nosso Senhor, Pe. Pedro Junior.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Totalmente demais


Esse é o título da nova novela que estreou no dia 09 de novembro e que tem como protagonista a artista Juliana Paes, interpretando Carolina, diretora de redação de uma revista de moda. Em uma das cenas da novela, que fala do desejo de Carolina ter um filho, ela se tranca no banheiro e diante do espelho diz: “eu quero, eu posso, eu consigo”.

O desejo de Deus para cada um de nós é que sejamos “totalmente demais”. Ele nos fez fecundos, como afirma o livro do Gênesis. Claro, não se trata apenas de uma fecundidade procriativa, mas nos que diz respeito às todas nossas potencialidades. A ciência já afirmou que, não obstante todos os inventos do homem, ele apenas desenvolveu uma mínima parte do que seu cérebro é capaz.

Deus fica feliz com o nosso desempenho integral. Através do seu Filho Jesus, quis realizar uma obra de libertação do homem em modo pleno. Jesus na sinagoga de Nazaré afirma, citando o profeta Isaías, que o Espírito está sobre Ele e o ungiu “para evangelizar os pobres, enviou-me para proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor” (Lc 4,18-19).

A glória de Deus, portanto, como afirma Santo Irineu, é o homem vivo em plenitude. Isso nos faz ter presente que o viver religioso deve ser em primeiro lugar promotor da pessoa. A história está cheia de vivências equivocadas da fé, nas quais o ser humano foi diminuído, mortificado e impedido de dar o melhor de si. Tudo isso foi uma caricatura da fé.

A vivência religiosa verdadeira passa pelo crivo da humanização. Tornamo-nos mais de Deus, na medida que nos tornamos mais humanos. A ação de Deus é real em minha vida na medida que consigo ser eu mesmo, amando-me, acolhendo-me e por sua vez abrindo-me ao outro e acolhendo-o como é.  É interessante que os grandes santos foram sempre promotores das pessoas. Estiveram à frente de grandes obras sociais, cujo fim era tornar mais digna a vida das pessoas e fazê-las mais realizadas.

A fé, por conseguinte, conduz-nos a acreditar que podemos ser melhores. É uma força propulsora de vida, de humanização e de progresso. Se em nome da ambição e da determinação, Carolina disse: “eu quero, eu posso, eu consigo”, movidos pela fé, podemos dizer, ainda com mais força a mesma frase, superando os desafios, as dificuldades, levantando a cabeça e olhando para frente com firmeza e esperança, porque é assim que Deus quer que caminhemos.

Totalmente demais! Esse é o projeto de Deus para cada um de nós. Ele quer realizar uma obra de purificação e libertação em nós. Contudo é preciso ter presente que o totalmente demais de Deus em nós implica em primeiro lugar, o amor. Nesse sentido o que fazemos das nossas potencialidades deve estar conjugado pela competência e o amor. Somos chamados a ser competentes no amor.

Essa é a nossa meta de cristãos, seguidores daquele que veio trazer para todo homem vida e vida em abundância. Na força da fé digamos com o desejo de realizar em nossas vidas o projeto de Deus em nós: eu quero, eu posso, eu consigo!

Pe. Pedro Moraes Brito Júnior


terça-feira, 8 de dezembro de 2015

“Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça”


Com as palavras de Tom Jobim, na música a garota de Ipanema, que representa o Brasil internacionalmente, gostaria de falar da garota de Nazaré, a Virgem Maria. Como dizem os antigos, ela é Tota pulcra, toda bela. É a coisa mais linda que Deus criou, porque a tornou cheia de graça, preservando-a do pecado. Foi assim que o anjo Gabriel a saudou, fazendo-nos entrever o dogma da Imaculada Conceição, que celebramos no dia de hoje, 08 de dezembro.

De um modo especial, é o evangelista Lucas que nos faz perceber a singularidade de Maria na história da salvação. Ela foi a eleita, a escolhida para nos dar a Beleza que salva: Jesus Cristo. Como Isabel, queremos hoje dizer: Tu és bendita Maria e o és porque creste.  O Senhor, como ela mesma afirmou, fez grandes coisas em seu favor.

A Virgem Menina, toda bela é imagem daquilo que somos chamados a ser também: belos.  A Igreja sem ruga e sem mancha, como afirma o apóstolo Paulo, na sua carta aos Efésios. Cada um de nós é convidado a ter o fascínio e a atração de um coração que é cheio de amor e, portanto, capaz de atrair outros corações. Essa é a beleza que devemos cultivar também em nós.

Nesse sentido, somos chamados, na busca de ter a silhueta de Deus, a eliminar os excessos. Cumpre exercitar-se na tarefa de retirar os resíduos de maldades, que por vezes, se aninham em nossos corações. É preciso correr, não perder tempo para “queimar” o que torna pesado o nosso coração e a nossa existência.

A Virgem toda bela caminhou entre nós. Ela começou a passar nas estradas de chão batido da Galiléia, caminhando, entre os vales para a Judeia. Trazendo consigo Jesus, “o mundo inteirinho se encheu de graça”. O coração de Isabel exultou, João Batista estremeceu no seu ventre e os olhos do velho Simeão se abriram e foram iluminados.

Ela, ainda hoje, continua a passar em nossas estradas, sendo invocada de formas diversas: Virgem de Lourdes, Mãe Aparecida, Nossa Senhora do Carmo, Virgem da Purificação, Senhora do Remédios, Nossa Senhora das Graças. Continua a atrair multidões por causa do amor: Jesus Cristo, seu Filho que ela no-lo deu. Maria é caminho que nos conduz a Jesus!

Tudo ficou mais lindo por causa do amor que Maria trazia consigo. Como Maria, queiramos ser também, o garoto de Feira, a garota de Salvador ou de Alagoinhas ou de Camaçari ou de sei lá onde. Mas o importante é que, como ela, não passemos de modo indiferente, tornemos mais belo o mundo pelo amor que trazemos dentro de nós.



Pe Pedro Moraes Brito Júnior

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Cristo ontem, hoje e amanhã


O ano litúrgico, que é a celebração dos mistérios da vida de Jesus, conclui-se com uma solene proclamação d’Ele como Rei e Senhor do universo. Ele é o alfa e o ômega, o princípio e o fim.  A Ele toda honra e glória.


Essa solenidade é uma ocasião ímpar para reafirmar Cristo como realidade central da nossa fé cristã. Esta se constitui em caminhar como discípulo, nos seus passos e no seu compasso, vivendo sob o seu senhorio. Implica, sobretudo, na busca de relacionar-se com Ele, procurando conhecê-Lo e amá-Lo.

Cristo ontem. Necessário se faz voltar as fontes, redescobrir o Jesus histórico, que viveu na Judeia, contemplar a sua vida e missão. Olhar os seus gestos e atos, ouvir as suas palavras e descobrir o que moveu o seu caminhar. Grandes santos reorientaram as suas vidas a partir do contato que tiveram com os Evangelhos. Um exemplo bastante significativo foi o de Francisco de Assis. Após a experiência com a boa-nova de Jesus,  encontrou um grande significado para viver que redimensionou a sua vida.

Necessário se faz um contato mais vivo com os Evangelhos, como oportunidade de contemplar e encontrar o Senhor. A experiência histórica nos mostra, que muitas vezes nos afastamos do Evangelho, somos mais instituição do que carisma. Perdemos a seiva vital que deve animar o nosso agir no mundo. É preciso afirmar o Cristo hoje, voltando ao Cristo de ontem.

Cristo hoje. Jesus não é uma peça de museu. O retorno aos Evangelhos não se trata de algo puramente informativo. É preciso ser mais que estudo. Necessário é fazer a experiência, sobretudo através da oração. O cristianismo é uma pessoa, afirmava o Papa Bento XVI. Portanto, implica primordialmente relação.

É dessa forma que somos chama
dos a atuar no mundo: sendo sinal e presença de Cristo, através do que fazemos. Ele deve ser glorificado em nossa vida. Esta deve se tornar sacramento da sua presença. E isto deve se concretizar na totalidade de nosso ser: na unidade de corpo e alma que somos. O nosso corpo deve mostrar a tangibilidade do evento Cristo no hoje da história. Através da expressão corporal, podemos fazer de Cristo uma realidade próxima de cada pessoa humana.

Cristo Amanhã. Viver unido a Cristo enche o nosso coração de alegria. Ele é o Emanuel que compartilha a nossa vida e caminhada. Como aos discípulos de Emaús, o estar com Ele aquece o coração, dando ânimo e vigor para prosseguir a caminhada. Ele oferece sentido e significado ao nosso viver. Mais ainda, impulsiona a nossa caminhada, fazendo-nos olhar com esperança para o amanhã, não obstante todos os males que nos cercam. Ele nos faz estar de cabeça erguida e, mais do que caminhar, nos faz correr em direção dos nossos objetivos. O amanhã se torna luminoso.

Não se trata, apenas, do amanhã intra-histórico, situado no tempo e no espaço, mas também do amanhã trans-histórico que culmina na eternidade. Nossa vida não está fadada à morte, mas à vida plenamente realizada em Deus. Ele nos aponta para a felicidade plena, quando Ele será tudo em todos. Na verdade, já pregustamos a eternidade, quando envolvidos pela dinâmica de sua vida.
Cristo ontem, hoje e amanhã! Sempre! Ele vive, reina e impera! Toda honra e glória!


Pe. Pedro Moraes Brito Júnior




segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Ensinai-nos a contar os nossos dias!

Assim reza, o salmista no salmo 89/90. Talvez tenha se dado conta da complexidade da vida, que nos impõe escolhas e decisões cotidianamente. Delas dependem o rumo de nossas vidas, bem como da de outras pessoas. A vida exige arte, aprendizado para que bem a trilhemos e a aproveitemos. É bom escutar aqueles que já percorreram muito caminho e, sobretudo, a voz de Deus, que se torna próxima a nós nas Sagradas Escrituras.

A vida é breve. Já diziam os antigos latinos: Tempus fugit! – O tempo passa! É preciso suplicar do Senhor a graça de bem viver a dádiva que Ele nos concedeu, chamando-nos à existência. Pedir para obter sabedoria é uma prece fundamental a fim de que não se viva em vão. O rei Salomão, tendo presente a sua juventude e a grandiosidade da sua missão como rei, pede a Deus que lhe conceda este dom.

Há alguns grandes riscos na vida: não a viver com intensidade, fundamentá-la sobre bases inconsistentes ou desprovidas de valor, perder-se, portanto, naquilo que não é mais importante e significativo, jogar fora oportunidades relevantes, priorizar o acidental e deixar de lado o essencial.

Contudo, o risco maior que podemos incorrer na nossa existência é:  o de não amar. E aí, como diz o canto, perdemos a vida: “Eu sei que a nossa vida é vida perdida pra quem não amar”. Sem dúvida alguma, o amor é a linfa que dá consistência ao nosso viver. Este, quando desprovido de amor, é vazio, triste e sem significado.

O salmista, além de pedir a arte de viver bem, suplica também que o Senhor o sacie com seu amor. Há no fundo do coração de cada ser humano o desejo do infinito, uma sede de felicidade que o conduz a estar sempre em busca. A prece do judeu piedoso exprime que esse desejo e essa sede podem somente encontrar plenitude em Deus.

Por vezes, colocamos, no passageiro e efêmero, o alvo da nossa vida. Envidamos esforços e gastamos energias por coisas, que na verdade não são fundamentais para o nosso bem-estar e a nossa busca de realização. O tédio assinala a vida de muita gente que é provida de tantos meios e recursos materiais, mas não encontra neles a alegria de viver e, por vezes, atentam contra a própria vida, por não encontrarem sentido para ela.

“Eu a preferi aos cetros e tronos e avaliei a riqueza como um nada ao lado da sabedoria” (Sb 7,8). O escritor sagrado escolhe a sabedoria. Ela deve se constituir também numa busca e escolha nossa também, pois é muito importante para trilharmos os caminhos da vida, procurando percorrê-los de modo a bem contarmos os dias que temos.  Não sabemos quantos são, se serão poucos ou muitos ainda. O que importa é viver o agora bem para que olhemos o passado com alegria e o futuro com esperança.

A sabedoria, por excelência, é o próprio Cristo. Queremos olhar a sua vida e missão para com Ele aprendermos a bem viver. Queremos, também, com Ele contemplar os fatos e acontecimentos com quais podemos crescer. A vida nos reserva grandes lições se humildemente formos capazes de trilhar a sua estrada não como mestres, mas como discípulos.



Pe. Pedro Moraes Brito Júnior

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Servidores da verdade

Quando pela primeira vez Jesus encontra Natanael, refere-se a ele como um homem em quem não há falsidade (cf. Jo 1,47). O Senhor reconheceu nele uma figura transparente, diáfana em que não há dicotomia entre o interior e o exterior, entre o que verdadeiramente pensa e o que concretamente exprime em atos e palavras.

O valor da autenticidade permanece em baixa na sociedade da imagem e da aparência. Buscando corresponder às suas expectativas, procura-se ser o que não se é. A tentativa, por exemplo, de viver nos ditames do mundo da moda, leva muitos a fazer altos gastos que na verdade fogem às suas possibilidades. Contraindo sérios débitos que, por vezes, não são capazes de honrar.

A falta de autenticidade diz respeito também às pessoas para consigo mesmas. Vivem uma ideia de si próprias que não corresponde à realidade.  Pode-se chegar a uma auto-alienação em que a pessoa não se dá conta de si. Ainda pior, a máscara colocada ou o papel vivenciado vão se tornando uma realidade com a qual a pessoa se identifica. Deixa de ser ela mesma.

Em âmbito relacional, chega-se a até à hipocrisia. Há quem vive em mudanças contínuas porque busca  adaptar-se aos gostos de quem se mantém em contato, aqueles que estão “por cima”. Torna-se progressista ou conservador conforme for necessário. Não existem mais convicções, certezas. O que importa é agradar quem está no comando. Esquece-se que o contraponto é extremamente enriquecedor na busca de encontrar o melhor.

Há quem ainda recorra às bajulações, aos elogios desmedidos – quem está de fora percebe claramente a inautenticidade do que se diz – procurando estabelecer relações que considera necessárias e proveitosas em benefício próprio. Em certos casos, estabelece-se um verdadeiro e próprio jogo de hipocrisia. Trata-se de uma diplomacia impostada na recíproca falsidade: as partes vivem um jogo falso: finge-se dizer algo verdadeiro, bem como finge-se acreditar na pseudo-verdade.

O deletério disso tudo é o comprometimento de um valor tão fundamental como o da verdade. Este, na hierarquia dos valores, situa-se entre os fundamentais. Aristóteles afirmava que preferia a verdade à amizade. Sem dúvida, quando as relações não são construídas na verdade, elas são como castelos feitos na areia, não têm consistência e se desfazem muito facilmente.

Somos seguidores daquele que se autodefiniu como a verdade: eu sou o caminho, a verdade e a vida (Jo 14,6). Como afirma o próprio Jesus, o nosso viver deve ser sim, sim ou não, não. O que passa disso vem do Maligno (cf. Mt 5,37). Nesse sentido, a verdade e a vida são duas referências fundamentais que devem caracterizar a vida do discípulo de Cristo. Um viver que é engano para si próprio e para os outros é, na verdade, um viver demoníaco como assim nos relatam as primeiras páginas do livro do Gênesis.

É preciso viver a diaconia da verdade, que sem dúvida alguma se entrelaça com o amor. Este exige a verdade porque supõe o conhecimento.  E a verdade é um gesto de amor porque promove a pessoa a partir da sua realidade. Quem ama não engana. Como diz o apóstolo, o nosso amor deve ser sincero (cf. Rm 12,9), não ocultando ao outro a sua realidade. A verdade vivida no amor, porém, supõe uma pedagogia que conhece momentos e modos de ser aplicada. Não se trata de ser verdadeiro a todo custo, mas de comprometer-se com ela, buscando o discernimento de como e quando dizer o que outro necessita ouvir.  O que importa é ser verdadeiro e não fazer-se de tal.

Pe. Pedro Moraes Brito Júnior

sábado, 19 de setembro de 2015

O desafio de amar


Jesus sintetizou toda lei e os profetas no mandamento do amor a Deus e ao próximo. Acrescentou que esse próximo não é somente o nosso conterrâneo, parente, amigo. São também os nossos inimigos, aqueles que não suscitam nenhuma afeição em nós. Pelo contrário deixaram lembranças, por vezes, amargas que fecharam o coração.

Diante desse desafio, poderíamos perguntar: é surreal o que o Senhor nos pede? Não está acima das nossas forças? Talvez até não se constitua em algo desumano indo de encontro aos sentimentos do coração?

Sem dúvida não é fácil, mas como diz o salmista, com Deus podemos fazer proezas (cf. Sl 108,14). E uma delas é a vitória sobre nós mesmos, através da força de vontade e o auxílio da graça. A história já nos apresentou situações de feridas que foram cicatrizadas e braços que se cruzaram num movimento de acolhida recíproca.

Na verdade, o outro, que parece aquela pedra no meio do caminho, pode ser o meu grande estímulo para crescer no amor. É revelador da nossa indigência interior. Da incapacidade de aceitar e acolher o outro como é. A dificuldade de relacionamento, que fecha o coração, pode se constituir num grande momento para nos repropor um caminhar crescente no amor.

Deus nos ama apesar de nós. Essa é também a nossa meta procurando viver o convite do Senhor: “sede misericordiosos como o vosso pai é misericordioso” (Lc 6,36). A grandeza do amor de Deus, fá-lo olhar para a nossa pobreza, a nossa maldade com amor. Diante do mal que praticamos, Deus somente lamenta por estarmos trilhando um caminho que não nos realiza.

É difícil olhar para a maldade do outro com amor, pois somos, às vezes, também atingidos por ela. É difícil também porque “ o ‘inimigo’, pelo contrário, estimula em mim emoções que não quero encarar: agressividade, ciúme, medo, falsa dependência, ódio, todo esse mundo de trevas que existe em mim”.

A falta de aceitação de que somos pobres, mistura de luz e trevas, de qualidades e defeitos, continua Jean Vanier, faz com que eu divida o mundo entre amigos e inimigos e levante barreiras em mim e fora de mim, espalhando preconceitos.

Quando, pelo contrário, afirma ainda o supracitado autor, “aceito ter fraquezas e defeitos, mas também poder progredir para a liberdade interior e para um amor mais verdadeiro, então posso aceitar os defeitos e fraquezas do outro; eles também podem progredir para a liberdade do amor. Posso olhar todos os homens com realismo e com amor. Somos todos pessoas frágeis e mortais, mas temos uma esperança, pois é possível crescer”.

Não obstante o incômodo que o outro possa nos trazer, paradoxalmente ele é uma luz no nosso caminho, indicando-nos que precisamos ainda crescer no amor para aceitá-lo e acolhê-lo. Aponta-nos também que precisamos mergulhar no oceano infinito do amor de Deus para reconhecê-Lo na face outro.  Sejam benditos os difíceis que nos convidam a sair da mediocridade e da presunção de que somos melhores.  Eles nos fazem entender que precisamos trilhar o caminho do amor gratuito apontado por Cristo, que nos leva a ser grandes no coração e a não colocar nem medidas, nem fronteiras no mesmo. Senhor, obrigado pelos que colocaste em meu caminho, fazendo-me ver que preciso dar passos e aproximar-me mais de Ti!



Pe. Pedro Moraes Brito Júnior

sábado, 12 de setembro de 2015

Olhar o “lado aberto”

A recitação do Salmo 122, com aquele versículo: “Como os olhos dos servos estão fixos nas mãos  de seus senhores, como os olhos das servas estão fixos nas mãos de suas senhoras, assim nossos olhos estão voltados para o Senhor, nosso Deus”, sempre me chamou a atenção. E a partir daí fiquei pensando na importância do olhar no sentido da concentração da atenção que faz mover o coração.

O olhar é suscitador de tantos sentimentos, além de ser também manifestador dos mesmos. Os mais antigos falavam de seus pais, com aquela educação rígida, dizendo que bastava somente um olhar para perceber os que eles estavam a indicar. No universo do mundo dos afetos, há dois adágios interessantes: “o que os olhos não veem, o coração não deseja” e “longe dos olhos, longe do coração”.

Realmente nos relacionamentos afetivos como é verdadeiro o que esses adágios transmitem. No que tange ao primeiro, damo-nos conta, que grandes relações nasceram da contemplação de um olhar, como canta a canção: “Quando nós trocamos o primeiro olhar, o meu coração pediu pra se apaixonar, igual ao sol que nasce e só pertence ao dia. Quando nasci o meu amor já te pertencia”.

O segundo adágio manifesta a necessidade do cultivo da relação amorosa que nasceu no primeiro olhar, através dos constantes cuidados, da necessidade do encontro, que não pode ser apenas virtual, mas real, pois o outro é espírito e também é carne. Olhar através do monitor, nunca será como olhar face a face.

Na verdade, o amor é contemplação. Esta é a sua expressão mais profunda. Faz-me lembrar os dois namorados na praça do jardim. Cessam as palavras e os dois permanecem no silêncio olhando e acariciando a face um do outro. A oração, enquanto encontro amoroso, é substancialmente contemplação. Que o digam os místicos, que se “perdiam” absortos na contemplação de Deus, mistério infinito de amor.

Temos necessidade do silêncio e da contemplação. Não somente são fontes de serenidade e paz interior, mas sobretudo direcionam o coração para as realidades que devem movê-lo, para as quais o seu pulsar deve estar orientado.

Precisamos contemplar o Crucificado, olhar o seu lado aberto, fonte do amor sem fim, de onde jorraram sangue e água. Como dissera o Papa Bento XVI, é de lá que aprenderemos em que consiste o amor. Esse lado aberto de Jesus é a expressão máxima do seu amor, manifestação de uma entrega total pela humanidade que foi desposada, assumida em seu coração.

Necessitamos contemplar esse lado aberto para crescer na arte de amar, superar as agruras advindas de desafetos, de amores não correspondidos, de humanidades feridas e destroçadas que não experimentaram o sentido original do amor: doação desinteressada pelo bem do outro. Nessa contemplação, que espiritualmente no faz beijar o lado aberto do Senhor, é gerado em nós um canto esponsal, como diz a música “Belíssimo Esposo”, que abre o nosso coração para Deus e para os irmãos.


Como o salmista, queremos ter os olhos fitos naquele lado, para que, apesar de tudo, o nosso coração não se canse de amar, para termos sempre presente que fomos amados por primeiro, por um amor que se disse todo e que nos convida a ser no mundo palavra que se diz toda, até emudecer, simplesmente porque é movida por um olhar.

Pe. Pedro Moraes Brito Júnior

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

O sentido esponsal do corpo


O nosso corpo é um verdadeiro microcosmo, uma realidade complexa e a compreensão do seu dinamismo fez com que a ciência se especializasse em vários ramos para não somente entender o seu funcionamento, mas aprimorá-lo e, sobretudo, exercer uma missão terapêutica perante as suas possíveis disfunções.

Diante do corpo, somos chamados a maravilhar-nos, percebendo a grandeza da sua realidade. Sem dúvida alguma, a estrutura corporal humana é uma das mais rebuscadas do mundo animal. Trata-se de uma engrenagem de elevada perfeição que manifesta a excelência do homem. Sim, somos uma grande maravilha criada por Deus!

Como diz o salmista, no seio materno o Senhor nos teceu (cf. Sl 139,13), chamou-nos à vida, insuflando sobre nós o seu Espírito. Foram-nos dadas a realidade espiritual, a alma, e a realidade material, o corpo. Somos, desse modo, um espírito corporificado e um corpo espiritualizado em perfeita união.

O corpo, enquanto realidade que nos foi concedida, trata-se de um dom que somos chamados a agradecer e a cuidar. Mas do que algo que possuímos, é uma realidade na qual existimos, que nos configura e nos constitui. Somos um corpo! Através dele, podemos manifestar nossos pensamentos e ideias, comunicar afetos, sentimentos e emoções, ir ao encontro das pessoas e manifestar-lhes, nossa amizade e nosso amor. 

O nosso corpo traz consigo um significado que deve condicionar as nossas expressões corporais. Fomos chamados à vida para estabelecer relações e fazer dom de nós mesmos no amor. O corpo traz, assim, um sentido esponsal. Indica que nossa existência não é para a solidão, mas para estabelecer comunhão no amor. “Sozinho o homem não se realiza totalmente a sua essência. Ele só a realiza existindo ‘com alguém’ – e, ainda mais profunda e completamente, existindo ‘para alguém’”.

Esse significado do nosso corpo deveria impregnar a suas expressões. Somos chamados a amar com o corpo que somos. A primeira consequência é que a vivência do amor não pode ser algo platônico, nas nuvens. Exige concretude que se exprime através das manifestações corporais. O amor não pode permanecer somente no nível das ideias. Deve ser vivido na totalidade de nosso ser. Não podemos ficar parados. É preciso colocar o corpo em ação, para que o amor também tenha dinamismo e se torne tangível.

É preciso superar uma vivência fruto da mentalidade ou da educação que anula o nosso corpo e faz-nos permanecer como verdadeiras estátuas, incapazes de fazer as pessoas sentirem, muito intensamente, o que elas representam e significam para nós.

Necessário se faz pôr todos os membros em movimento para dizer e fazer ouvir palavras que adoçam o coração, olhos capazes de contemplar as diversas moções interiores que se manifestam no rosto do outro, mãos e braços, que através do toque, acalmam, acariciam e fazem sentir, não apenas o calor do corpo, bem como o da alma.


Nosso corpo, essa dádiva tão preciosa, tem como vocação ser sacramento do amor. Ele existe para além dele mesmo. Não apenas evoca o amor, mas o torna presente. Na verdade, esse foi o movimento de Deus: o Amor se fez carne, tornou-se corpo, assumiu um rosto, manifestou-se em palavras e gestos que geraram vida nova, alegria e realização em muitos corações. Dessa forma, indicou-nos o significado essencial do nosso corpo: tornar-se amor em suas expressões.

Pe. Pedro Moraes Brito Júnior

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

A maiêutica ética

O grande filosofo grego, Sócrates desenvolveu o método da maiêutica que utilizava com seus alunos. A sua mãe era parteira e na observância do que ela fazia, Sócrates entendeu que na sua missão de mestre, a sua tarefa era de fazer vir à luz o que os seus alunos já traziam dentro de si. 

Para ele, o conhecimento já existe no aluno, ao mestre cabe o empenho de extrai-lo do seu interior.

Cada pessoa traz também dentro de si a luz da bondade, porque foi criada por Deus. Nas páginas do Gênesis, após o relato da criação do universo e do homem, o autor sagrado afirma: “Deus viu tudo o que tinha feito: e era muito bom” (1,31). Somos por natureza bons, trazemos o reflexo da bondade do Criador em nós, não obstante tenhamos sido atingidos pelo mal.

A ética visa o bem. Tem por tarefa individuar referências, que se configuram como uma bússola, as quais orientam o caminho do homem para que ele aja, fazendo jus ao que ele é: ser humano. A ética visa proteger a pessoa, humanizá-la, para que não se caricature, ofuscando a grandeza da sua beleza: ser criado para conhecer, decidir e amar. Dotado, por conseguinte, de conhecimento, liberdade e amor.

Na condição de seres interpessoais, nós nos construímos na relação. Ela é enriquecedora da nossa realidade de pessoa. Nós somos o ambiente, a família, a escola, os amigos, os livros que lemos. Trilhamos o caminho da vida dando e recebendo.  Deixamos marcas nas pessoas e as influenciamos e por nossa vez somos marcados e influenciados.

A estratégia metodológica de Sócrates conduz-nos a perguntar se agimos eticamente com as pessoas, no sentido de fazer vir à luz o que de bom existe nelas. Entra em questão um conceito ético importante: o da cumplicidade. Podemos ser cúmplices no bem ou no mal. Podemos fazer as pessoas agirem no melhor delas ou no pior delas.

Há uma temática que faz parte do universo de reflexão ética que é a questão das paixões. Quando se fala do comportamento moral, tem-se em conta a complexidade do ser da pessoa humana. O homem é razão, mais também é sentimento, emoção e tudo isso pode influenciar o seu comportamento moral. 

As paixões em si mesmas não tem valoração ética, ou seja, não são boas ou más. Contudo o que se faz delas pode fazer com que o nosso comportamento se configure como bom ou mau.

Podemos, dessa forma, mexer com os sentimentos das pessoas e induzi-las a realizar ações grandiosas, ou contrariamente levá-las até o absurdo. Lembrando os desenhos animados, podemos ser aquele diabinho que instiga para o mau o aquele anjinho que convida a fazer o bem.


Quando criança, por vezes, gostávamos de insultar o colega para vê-lo reagir agressivamente. As vezes também, gostamos de provocar, tocando nas questões que vão suscitar as reações que previamente damos por certas. É preciso de um lado não se deixar dominar pelo outro, fazendo com que nos façam dar à luz a frutos maus; e de outro, é preciso ter grandeza de alma para querer ser na vida das pessoas suscitador de coisas boas, fazendo com que venha à luz o melhor delas. Deus não nos permita ser cúmplices no mal!               


Pe. Pedro Moraes Brito Júnior