sexta-feira, 30 de março de 2012

Põe um guarda em teu coração!

Somos seres bons, a nossa essência é a bondade, pois proviemos d’Aquele que é o sumo bem. Quando Deus criou todas as coisas e também o ser humano, Ele viu que tudo o que havia feito era muito bom (cf. Gn 1,31). Portanto, fazer o bem é realizar algo que tem a ver conosco, que corresponde ao nosso ser, que é digno de nós. Dito de forma contrária, o mal nos deforma, faz-nos deixar de ser, não é digno de nós, pois não nos corresponde constitutivamente.
Misteriosamente, contudo, fomos atingidos pelo mal e, como nos afirma o salmista, como pecadores, fomos concebidos (cf. Sl 50,7). A Igreja nos ensina, através da doutrina do pecado original, que a nossa natureza por causa desse pecado está enfraquecida e inclinada ao mal, ao pecado. Não está totalmente corrompida, mas vive esta divisão interior.
A busca do bem requer, por isso, empenho esforço. Nem sempre se trata de algo deleitável, fácil de ser posto em prática. Por vezes, para realizá-lo é preciso travar um combate e este começa dentro de nós.  As forças opostas que devemos enfrentar não são pura e simplesmente realidades exteriores a nós. A luta começa dentro de nós.
Sendo assim, é preciso por um guarda em nosso coração para que não deixemos prevalecer as inclinações para o mal que estão em nosso interior.  Nesse sentido, Jesus pediu-nos muita atenção, quando conversando com os apóstolos, Ele afirmara: ”mas o que sai da boca procede do coração e isto que torna o homem impuro. Com efeito, é do coração, [continua Jesus], que procedem más intenções, assassínios, adultérios, prostituições, roubos, falsos testemunhos e difamações. São essas coisas que tornam o homem impuro”(Mt 15,18).
É preciso vigiar o coração a fim de que possamos agir no melhor de nós, fazendo desta forma jus à nossa essência. Vigiar o coração para que o ciúme, a inveja, o ressentimento, a vingança não condicionem os nossos comportamentos e, assim, não pratiquemos o mal para com aqueles com os quais convivemos.
A psicanálise, com o tema do inconsciente, tornou mais necessária e imperativa esta atitude vigilante. Existem coisas dentro de nós que não conhecemos, que não entendemos e que exercem um grande poder sobre nós. Nosso esforço é de conhecer a nossa realidade interior, pois o que conhecemos dominamos, ao passo que o que não conhecemos nos domina.
Nós somos o que lemos, o ambiente em que vivemos, as pessoas que nos relacionamos. Por um guarda em nosso coração significa também estar vigilante sobre aquilo que nos influencia e que vai nos configurando, nos conformando. Faz-se necessário que não nos deixemos invadir pelo mal que existe ao nosso redor, fazendo com que ele encontre espaço em nosso coração. Este não pode ser a casa da maldade. Toda realidade má em nosso coração não é hóspede, mas invasor, intruso. Não deixemos que os invasores habitem o nosso ser, sobretudo aquele núcleo sagrado que se chama consciência. Quando isso permitimos, nós fazemos de Deus um sem teto em nossa vida.
É preciso ser protagonista da própria história. Esta se realiza pelas nossas decisões. Somos o que decidimos ser. Se de fato queremos ser bons, vigiaremos o nosso coração para que ele sempre seja a casa do amor, a morada do eterno, o céu aqui na terra, o lugar onde Deus habita.
Pe. Pedro Moraes Brito Júnior
pepedrojr@hotmail.com

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