Para a caminhada deste novo ano, após as férias de verão que já chegam ao fim, gostaria de propor uma mística para viver a lida que estamos por enfrentar com o retorno das atividades.
Na sua carta aos romanos, exatamente no capítulo 12, versículos de 1 a 2, São Paulo fala do culto espiritual, entendendo-o como oferta de si a Deus. Neste sentido, o apóstolo contrapõe à oferta de sacrifícios de animais a Deus, o dom de si mesmo. A isto chama de culto espiritual.
Nos primórdios da Igreja, o martírio foi a grande expressão de perfeição cristã e, por isso, os mártires eram tidos em grande conta nas comunidades cristãs antigas. O livro do Apocalipse fala daqueles que lavaram e alvejaram suas vestes no sangue do Cordeiro, provenientes da grande tribulação na qual deram suas vidas por Cristo (cf. 7,14).
Com o passar do tempo, as perseguições desapareceram e começou-se a entender uma nova forma de martírio. Alguns o chamam de martírio branco. São os sacrifícios, dificuldades e sofrimentos aceitos e suportados por amor de Cristo.
Não se trata de masoquismo, ou de um comportamento acomodado e alienado, mas de uma aceitação consciente dos contratempos que existem na vida, fazendo deles ocasião de união a Cristo, que também sofreu por nós.
Esse comportamento que a ascese cristã chamou de mortificação, poderia também em alguns casos, ser traduzido hoje por autocontrole, ou por equilíbrio emocional tão exigidos nas instituições e tornando-se critério de avaliação do bom desempenho do funcionário.
O seguidor de Jesus, além das razões laborais, vê nessas ocasiões momentos de purificação e de vivência do mandamento maior da caridade. O controle de uma atitude agressiva não é, pura e simplesmente, busca de evitar um desencontro, mas desejo de não faltar com a caridade com irmão. É expressão da procura de ter um comportamento semelhante ao de Jesus que era manso e humilde de coração.
Contudo, o outro, que por vezes está diante de nós, poderia nos fazer perguntar: vale a pena conter a minha língua e deixar de dar-lhe aquela resposta afiada ou deixar de tratá-lo mau? Não estaria entrando no rol dos bobos? Buscar ser grande de alma e de coração não nos torna tolos, mas felizes. A grandeza ou superioridade mais almejada pelo discípulo de Cristo é a do amor e ninguém perde nada quando ama.
O amor torna-nos capazes até de sofrer por quem amamos. O culto espiritual na vida de irmãos, amigos e esposos pode exprimir-se na capacidade de ofertar-se pela felicidade do outro, mesmo em detrimento do próprio bem-estar. Mas como amar quem não conheço ou quem até mesmo o mal a mim deseja?
O culto espiritual é busca de alvejar a própria veste em Cristo, ou seja, é capacidade de por Ele aceitar o outro, as dificuldades, dores do viver. Aqui está a grande razão que nos move a ser pessoas de “alma grande”.
Na eucaristia, podemos unir o nosso sacrifício, vivido no dia-a-dia, ao sacrifício de Cristo, realizando assim o culto espiritual e fazendo da nossa vida eucaristia.
Pe.Pedro Moraes Brito Júnior
pepedrojr@hotmail.com
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