O Concílio Vaticano II afirma que a “verdadeira liberdade (...) é um sinal eminente da imagem de Deus no homem” (GS, 17). Para a antropologia cristã, portanto, a liberdade é uma condição fundamental, caracterizante do ser humano. Impedir o exercício livre do agir do homem é anulá-lo, é fazer com que ele deixe de ser pessoa em plenitude, é ir de encontro à sua dignidade.
Aprendemos na teologia que Deus se revelou, não pura e simplesmente para dar-se a conhecer, para dizer que Ele é. A revelação divina tem um caráter relacional, dito com maior profundidade, é busca de comunhão. Deus se revela para entrar numa comunhão efetiva e afetiva com a pessoa humana. O Deus que se auto-manifesta é um Deus que busca o homem, que vai ao seu encontro porque o ama. Espera, por conseguinte, uma resposta dele. Quer, contudo, que o seu apelo seja acolhido na liberdade. Espera do homem uma resposta livre de amor.
O apelo que o Senhor nos faz é respondido no dia-a-dia da nossa vida por meio das nossas escolhas e opções. A resposta amante, que somos chamados a dar a Deus, não é algo que se circunscreve em um momento intenso de oração pessoal ou numa celebração comunitária apenas. Direcionamos a mente e o coração para Deus através do que fazemos, do que realizamos. A verdade da nossa resposta exprime-se nas nossas ações.
São os nossos atos que dizem quem somos. Eles nos exprimem, nos revelam. É por meio deles que manifestamos a nossa condição de criaturas livres e orientamos a nossa liberdade. O homem é um ser moral justamente por ser livre. É através das escolhas dos atos que conhecemos como bons ou maus, que nos qualificamos moralmente: quando elegemos coisas boas somos bons, quando optamos por coisas más, somos maus.
Na carta aos gálatas, o apóstolo Paulo fala da vocação à liberdade do cristão. Ele afirma: “Para ser livres, Cristo nos libertou” (Gl 5,1). Mais adiante, porém, assevera que a liberdade que nos foi dada, não deve ser uma oportunidade para viver na carne, ou seja, no pecado, no mal (cf. Gl 5,13). Paulo salienta, desta forma, que o exercício da liberdade deve ser orientado, conduzido.
Neste sentido, a concepção cristã oferece um elemento importante para o entendimento da liberdade à luz da fé. A liberdade é uma condição do ser humano que deve ser exercida no bem. O apóstolo, ainda no capítulo quinto, versículo treze, destaca que a liberdade deve ser vivida no amor ao próximo, deve se constituir em possibilidade de serviço a ele.
Ser livre em Cristo não é pura e simplesmente ser livre para fazer o que se quer. Ser livre em Cristo é viver a liberdade n’Ele. Ele é o caminho que queremos seguir. Ele é a verdade a partir da qual orientamos as nossas escolhas. Ele é a vida em plenitude. Viver a nossa liberdade n’Ele, nos tornará plenos também. Ele nos indica, como ao jovem rico, o bem que devemos fazer, ou seja, que deve orientar e dar sentido às nossas ações. Ele nos conduz aquele que é bom, fazendo-nos entender que “só Deus pode responder à questão sobre o bem, porque é o Bem”. Para viver a liberdade no bem é preciso “dirigir-se em última análise a Deus, plenitude da bondade” (VS 9).
Viver a liberdade em Cristo não é uma coerção, nem restrição a condição de ser livre do homem. É a possibilidade de fazer com que o uso da liberdade conduza o homem ao que o seu coração anseia: a felicidade.
Pe. Pedro Moraes Brito Júnior
pepedrojr@hotmail.com
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