Nas sendas do jubileu de ouro da nossa Arquidiocese de Feira de Santana, queremos reavivar o dom que somos nós mesmos. Somos expressão do amor de Deus. Foi Ele que nos chamou a vida. Ele nos quis, criou-nos como um dom do seu amor. Fez-nos existir através do dom si mesmo dos nossos pais um ao outro. Fomos gerados no dom do amor. Este é o local e a atmosfera nas quais a vida humana deve ser chamada a existência.
No seio materno fomos tecidos e, desde aquela junção do óvulo e do espermatozóide, tornamo-nos destinatários especiais do amor providente de Deus. Desde aquele momento, recebemos do Senhor a nossa alma espiritual e trouxemos em nós a imagem do Criador. O dom da vida para quem crê é, portanto, algo sagrado porque comporta justamente a “ação criadora de Deus” e faz com que o ser humano permaneça “para sempre em uma relação especial com o Criador, seu único fim”.
Chamando-nos à vida, à sua imagem e semelhança, o Senhor chamou-nos a conhecer e dotou-nos para tal de capacidades. Incita-nos ao conhecimento do mundo e do universo que Ele criou para nós, fazendo-nos perceber a riqueza existente na biodiversidade que configura o nosso planeta. Quantas descobertas foram feitas através da análise e do estudo de plantas, animais e fenômenos naturais!
Fazendo-nos seres curiosos, inquisidores, o Senhor convidou-nos também a ir além das aparências e dos fenômenos. Através do pensamento, podemos refletir, fazer deduções, sincronizar idéias que originam novos conhecimentos através duma atividade puramente intelectiva, espiritual. Tal possibilidade levou o homem a perguntar-se sobre si mesmo, sobre sua vida, sobre o sentido do seu ser e estar no mundo. O conhecimento do homem abre-se assim ao divino como sentido maior da sua existência e como anseio que ecoa no seu coração. Na verdade o alto poder cognoscitivo do homem é revelador duma sua vocação: para o infinito. Ele é chamado a conhecer a Deus, o Infinito, Aquele em quem não há início, nem fim.
Deus é, assim, a verdade última para qual deve estar orientado o conhecimento humano. Enquanto realidade que se dá na história o ato de conhecer do homem deve estar, também, voltado para verdade e se dar na verdade. Na atual conjuntura, um dos graves problemas que caracteriza a sociedade hodierna é a desvinculação entre conhecimento e verdade. Este aliou-se a uma mentalidade produtiva onde o interesse técnico está em primeiro lugar. Aqui o que se busca é o útil, o eficiente e o lucrativo. Tudo isto conjugado ao interesse de sempre ter mais, fez com que a capacidade transformante do conhecimento se tornasse numa fonte causadora de depreciação do mundo. O conhecimento, que originariamente foi dado ao homem para que ele pudesse colaborar na construção do cosmos, está sendo capacidade para torná-lo caos.
Reavivar o conhecer em Cristo é não deixar-se conduzir pela lógica do conhecer é poder. Não é simplesmente ter know-how para com ele depredar o planeta. O conhecimento foi dado ao homem para ele construir e não destruir. O mundo, ainda em fase de construção, é uma realidade para qual o homem, à luz da criação divina, foi colocado não para dominar no sentido de dispor como bem quiser, mas de colaborar e engrandecer a obra da criação. Reavivar o conhecer em Cristo é utilizar a capacidade cognoscitiva para o bem da pessoa humana. O nosso mundo ainda tem problemas, não pela falta de conhecimento, mas pela má utilização deste. O conhecimento deve estar orientado ao bem.
Falando em bem, não somente pensamos naquilo que é eticamente correto, mas outrossim numa outra qualidade do homem: o amor. Amar outra coisa não é que querer o bem da pessoa amada. O conhecimento deve se dar no amor e para este também deve estar orientado. Neste ele não somente se torna saboroso, mas poderá realmente ser orientado para ser construtivo e edificante, ou seja, verdadeiro.
Pe. Pedro Moraes Brito Júnior
(pepedrojr@hotmail.com)
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